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Coronavírus: o desafio diário de maqueiros, motoristas de ambulância e trabalhadores de apoio dos ho


Jorge Luiz, motorista de ambulância, na profissão há 22 anos: “Desafios existem para serem superados” Foto: Divulgação

Jorge Luiz, motorista de ambulância, na profissão há 22 anos: “Desafios existem para serem superados” Foto: Divulgação

Há nove meses trabalhando como maqueiro no Hospital Municipal Ronaldo Gazzola, em Acari, na Zona Norte do Rio, Vagner Vianna, de 19 anos, dá os primeiros passos numa área em que sempre sonhou atuar. Mas nem de longe o jovem, que pretende ser técnico de enfermagem ou de radiologia, imaginava que logo no início da carreira estaria no meio de uma pandemia. Mais experiente, o motorista de ambulâncias Jorge Luiz Lourenço da Silva, de 51, que trabalha na mesma unidade, classifica a situação atual como o maior desafio enfrentado em 22 anos de profissão.


Maqueiro Vagner Vianna, de 19 anos, atua no Hospital Ronaldo Gazolla Foto: Divulgação

Maqueiro Vagner Vianna, de 19 anos, atua no Hospital Ronaldo Gazolla Foto: Divulgação


— Os colegas falam que sou corajoso por estar nessa linha de frente e num hospital que é referência (no tratamento do coronavírus). Mas nossa vida é feita de desafios. E os desafios estão aí para serem superados — diz Jorge Luiz, que mora em Padre Miguel e tem escala de 24h por 72h.

Os profissionais da saúde, como bem lembrou o condutor de ambulâncias, são os soldados que estão na linha de frente no combate à Covid-19. Embora médicos e enfermeiros sejam os primeiros a serem lembrados quando se trata de luta contra uma doença, outros profissionais da área são essenciais para a engrenagem do sistema de saúde funcionar. São maqueiros, motoristas de ambulância, faxineiros, recepcionistas e outros trabalhadores de apoio dos hospitais.

Por estarem em contato diário com os pacientes, esses profissionais também correm mais riscos de contaminação. Até a noite de terça-feira, cerca de 1.800 trabalhadores da saúde haviam sido afastados de suas funções por suspeita ou confirmação de contaminação nas redes municipal e estadual, tendo havido quatro mortes até então.

O medo tem sido o companheiro constante de quem atua nessas unidades. Os cuidados com a higiene foram redobrados dentro e fora do ambiente de trabalho, já que um grande temor desses profissionais é levar a doença para dentro de casa.

— Agora eu uso um short por baixo da calça comprida. Chego na porta da minha casa (na volta do serviço), tiro o tênis, a meia, a calça e a camisa. Ponho tudo numa sacola, entro em casa, lavo a sola do calçado com cloro ou água sanitária e deixo no sol. A roupa fica num local isolado para que minha esposa possa lavar separada das demais — relata Jorge Luiz.

Ter saúde para cuidar

Outra alteração no comportamento do motorista de ambulâncias Jorge Luiz da Silva foi a alimentação, que se tornou mais saudável para fortalecer o sistema imunológico. Cuidar da própria saúde é fundamental também para manter os “soldados” em combate. No trabalho, a principal mudança foi o cuidado maior com luvas, máscaras, óculos, touca e capote, os chamados EPIs (equipamentos de proteção individual):

— A gente não pode brincar. Não sabemos de onde o vírus vem. Então, a gente tem de estar paramentado.

Mudou até a relação com os colegas, que se cumprimentam agora com um leve toque de cotovelos. A expansividade carioca deu lugar ao distanciamento.

— O que a gente sente mais falta é daquele jeitinho carioca, do abraço e do aperto de mão. Temos que nos manter à distante para não nos arriscarmos nem colocarmos colegas em risco. No mais, é usar os EPIs e levar o plantão numa boa — diz.

Mais risco, mais trabalho

Até a pandemia se instalar, o Hospital Municipal Ronaldo Gazzola atendia basicamente moradores da Zona Norte, que buscavam a unidade pela proximidade da Avenida Brasil. A maternidade era o único setor que funcionava de portas abertas ao público. O hospital não tinha serviço de emergência e era uma espécie de retaguarda da rede municipal, oferecendo leitos a pacientes encaminhados pela central de regulação.

Esse foi o cenário que o maqueiro Vagner Vianna encontrou há 9 meses, quando foi contratado. Mas tudo mudou.

Em março, a unidade foi escolhida pela prefeitura para receber os pacientes com Covid-19, mudando radicalmente a rotina dos funcionários. De um hora para outra, quem estava acostumado a lidar com grávidas e vidas chegavando ao mundo passou a engrossar as fileiras da luta contra o vírus.

— Nossa rotina era transportar gestantes e, quando começou a pandemia, tudo mudou de forma bem radical — lembra o maqueiro.

E, não foram só os riscos que aumentaram. A demanda de pacientes também é maior. O jovem, que mora em Barros Filho com os pais e três irmãos, toma toda precaução para não levar a doença para casa.

— Não venho com a mesma roupa que vou usar aqui (no hospital). Quando chego, tomo banho e coloco o uniforme. Ao sair, o mesmo: não entro em casa com a roupa que estava usando na rua — conta o rapaz.

O risco de contaminação é um medo constante, mas o dever de ajudar a salvar vidas fala mais alto:

— A gente se assusta, mas tem que prosseguir.

Para o jovem, se há algo de positivo nessa pandemia, é a percepção do valor de todos os profissionais da saúde.


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